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Foto do escritorUriel Gonçalves

O que é o Mundo BANI e por que você deveria conhecê-lo.

Acredito fortemente que você já ouviu falar no termo VUCA, certo? Oficialmente, ele foi cunhado há mais de 30 anos atrás pelo exército americano e se tornou comum falar dele para se referir ao mundo.


Às pessoas que estão boiando e não sabem sobre o que estou falando, VUCA é o acrônimo para as palavras "volatile", "uncertain", "complex" e "ambiguos". É fácil enxergar o motivo que ficou conhecido rapidamente né? É exatamente como o mundo se parece: volátil, incerto, complexo e ambíguo.




Porém, Jamais Cascio apresentou um novo termo para a sociedade durante um evento no Institute for The Future (IFTF), argumentando que agora nós não vivemos mais no mundo VUCA, mas sim no mundo BANI. E é interessante que ele falou isso lá em 2018, dois anos atrás, muito antes da pandemia começar, porém já com sinais de novos comportamentos que foram acelerados por causa da pandemia.

Mas o que quer dizer BANI, afinal? "Brittle", "anxious", "non-linear", "incomprehensible". Ou seja, frágil, ansioso, não-linear e incompreensível. E quando pensamos nisso, parece que faz cada vez mais sentido durante esse momento atual.


E como isso pode afetar os nossos negócios?


Frágil

Sistemas frágeis são suscetíveis a falhas repentinas e catastróficas. Ao contrário de resilientes, eles são quebradiços. Estes sistemas são como o vidro de um smartphone, podem ser extremamente resistentes, mas quando quebram, eles não falham gradualmente ou graciosamente, simplesmente quebram de maneira incontrolável.


Ansioso

Hoje, a ansiedade está no nível mais alto de todos os tempos, e isso também não é uma novidade, assim como a depressão. Em um mundo ansioso estamos constantemente no limite, esperando as próximas notícias ruins nos atingirem, ou a próxima distopia fictícia sendo apresentado como um caminho, não apenas possível, mas provável, e com muita credibilidade. Todos os elementos do termo do Mundo VUCA também geram ansiedade.


Não-Linear

Estudiosos e tecnólogos gostam de falar sobre crescimento ou mudança exponencial, mas em um sistema não-linear normal, a causa e o efeito estão aparentemente desconectados, e por isso não há uma melhora exponencial também. As vezes, os dois (causa e efeito) apresentam um longo atraso entre eles - e pequenas ações tomadas, ou não, podem levar a impactos descontroladamente desproporcionais. Os seres humanos hoje, em termos técnicos, são péssimos em qualquer planejamento de longo prazo, e é por isso que agora, e pelas próximas gerações, temos que lidar com as mudanças climáticas para pior.


As mudanças climáticas, a pandemia e quaisquer outros ciclos de associação entre "causa e consequência" são um exemplo perfeito de como funciona um mundo não-linear.


Incompreensível

Arthur Clarke, autor de 2001: Uma Odisséia no Espaço, uma vez disse "qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistínguivel da magia, e as coisas cotidianas agora são incompreensíveis". Estar vivo no século XXI é confiar em inúmeros sistemas complexos e incompreensíveis que afetam profudamente as nossas vidas. Ou você sabe me explicar como funciona o algoritmo do Facebook? E como a jornalista Quinn Norton apontou "até mesmo um desktop do Windows é tão complexo que ninguém no mundo sabe realmente o que está acontecendo ali ou como", e muito menos uma vasta rede desses computador ou sistemas mais complicados.


Tudo isso parece familiar e provavelmente pareceria familiar para a maioria das pessoas hoje. E eu diria, inclusive, que se você não concorda amplamente que este é o estado do mundo hoje, você está em algum tipo de negação.


Como lidamos com esse Mundo BANI?

Por mais desconfortável que a gente se sinta nesse Mundo BANI, pode ficar pior: por todos os lados estamos vendo ele surgir. Estamos moldando ativamente o mundo de uma maneira que todos os elementos apresentados até agora estejam amplificados.

Vamos considerar os seguintes exemplos:

Nicholas Nassim Taleb, no seu livro Antifragile: Things That Gain from Disorder, argumentou que deveríamos desenvolver sistemas anti-frágeis sempre que possível. Quando não for possível, então a melhor opção seriam sistemas resilientes que falham normalmente. Porém, ao invés disso, em nossa incessante busca por eficiência, também estamos desenvolvendo e impulsionando sistemas frágeis. Com tecnologias como IoT (Internet das Coisas) e Wearables a disposição, estamos criando mais sistemas acoplados às nossas vidas, estes são inerentemente perigosos e complexos. E se falham, tende a ser muito problemático. No livro "Click Here to kill everybody: security and survival in a hyper-connected world", Bruche Schneier defende o aumento da regulamentação e a desaceleração da inovação, por que o custo de errar na IoT está ficando muito alto.


O mundo atual também gera ansiedade. Vivemos em uma época que a mídia está tão focada no negativo que deixa os consumidores e espectadores ativos desconectados de outras realidades mais positivistas; onde a economia da dopamina voltada para a atenção e para o ego, com a mídia social como principal responsável, nos levando também a uma desconexão com as coisas que provavelmente nos fazer felizes - coisas como a natureza, que está sob pressão da urbanização, e do tempo longe de telas de TV, celular e computadores. Estes problemas foram apresentados em profundidade em livros como o iGen, de Jean Twenge, ou Lost Connections, de Johann Hari.


Também é evidente que estamos vivendo em um mundo não-linear. Isso não se aplica apenas a perturbações como o clima, ou a pandemia, mas também a sistemas artificiais de crescente complexidade que se comportam, especialmente em situações anormais, de maneira não-linear.


E, finalmente, que tudo seja incompreensível, com cada vez mais softwares, computadores e máquinas que, por design, é praticamente incompreensível. Quem nunca viu aqueles vídeos de "How it Works" dos produtos chineses e japoneses que levante a mão. Aliás, a maior parte da Inteligência Artificial e do Machine Learning são incompreensíveis para leigos. E colocando isso em tudo, estamos tornando o mundo ainda mais difícil de entender.


E qual a saída disso tudo?

Todos os quatro elementos estão, é claro, relacionados e entrelaçados. Sistemas complexos e fortemente unidos tendem a ser frágeis e não lineares, o que por sua vez é incompreensível e, como resultado, gera ansiedade. É interessante notar que o contrário também acontece - a ansiedade nos leva a implementar uma infinidade de sistemas de segurança, mas em sistemas complexos, são os sistemas de segurança que geralmente contribuem ou causam as falhas.


É irônico que, em nossos esforços para conectar tudo, às vezes deixamos de ver que tudo já está conectado, apenas de uma maneira diferente. Por mais que existam pessoas prometendo respostas ou soluções fáceis, eu gostaria de dizer que: não há tal coisa. Porém existem respostas úteis e construtivas.


Por mais que utilizar o modelo do Mundo VUCA nos permita navegar com sucesso no ambiente atual, identificar alguns desses direcionar do Mundo BANI nos permite dar os primeiros passas para mudar o ambiente. Aliás, o BANI pode até parece mais assustador que o VUCA, em primeiro olhada, mas ele pode ser responsável por fazer com que nos busquemos no sentido de agir. E a low touch economy tá aí pra não me deixar mentir.


Seja apenas um relâmpago ou se vai chegar pra ficar, só o tempo dirá, mas acho que vale a pena dar mais do que apenas uma olhada.

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